Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Gosto muito de estudar.
Ler. Ver. Pensar. Discutir.
Meu olho é hiper-ativo,
gosto bem de ir vendo tudo,
como o pastor amoroso do Pessoa,
mas aceleradamente,
como o zapeador pós-moderno.
Adoro ouvir o outro.
Contemplar. Prestar atenção. Dispersar.
Zapeio com o olho concentrado
os clipes cotidianos da vida,
venham mediatizados ou não.
Não recuo. Amo livro, TV, jornal,
cinema, rádio, revista, internet
(teatro num gosto não, prontofalei).
Sou filha agradecida
das mídias e das tecnologias.
E gosto também do calorzão
da interação face-a-face.
Eu toco muito. Abraço. Beijo. Aliso.
Ronrono quando me tocam. Abraçam.
Beijam. Alisam. Muito.
No MP3, a trilha que embala
meu olhar diurno para o horizonte
nas caminhadas, numa varanda
que me dê mole, na praia aberta,
ou meu olhar noturno para desafiar
a escuridão.
Não veto o sensório.
Não recuo (por vezes sim)
do experimentar.
Brinco com tudo que me fala.
Não temo o discurso.
Me embalo nele.
Sou curiosa e entregue,
valorizo e agradeço
poder aprender.
E amo também
distribuir. Partilhar. Escambar
tudo que aprendo.
Por isso, nunca canso
de ensinar.
Ser professora é o que completa
meu desejo permanente
de aprender.
Vivo para isso, e agradeço.
Mas, vez por outra,
emerge em meio a esse jogo lúdico
de aprender aprendendo e ensinando
as figuras opacas
seres sem luz
esses pocinhos rasos de vaidade oca
nada a dizer, nada sabem
porque nada aprendem
nada ensinam, porque nada sabem
porque nada aprendem.
Fechados em suas imagens de espelho
simulacros do nada,
espelhos de auto-atribuição
os falsos leoninos
de porra nenhuma.
Mas pavões,
arrotando sua mediocridade
falso ar blasé
inseguros porque lá em suas profundezas
o espelho quebrado
corrompe o álibi da conotação:
são umas grandecíssimas merdas,
e sabem disso.
Mas simulam. Posam. Mascaram.
Cabotinos. Enormes fariseus.
Tento não vê-los, não reparar neles,
porque quando se anunciam
no meu campo de visão
embrulham meu estômago
me irritam o olhar
pertubam meu play-ground acadêmico
essa grande brincadeira
que é aprender e ensinar
esse parquinho de afetos
de amigos e alunos
esse cantinho encantado
de menino curioso
que sempre se maravilha com a palavra nova,
com o inusitado do nunca visto,
com a percepção do novo no visto tantas vezes.
Essas falsas e óbvias esfinges
atrapalham a farra do saber.
Hei de conseguir
uma capa invisível de Harry Potter
que me esconda
quando suas sombras dissimuladas de dementadores
se fizerem sentir.
Mas, de preferência,
que os esconda
essas estúpidas figuras
esses simulacros de merda nenhuma
ausência qualquer de representação.

(Ana Lucia Enne - em 03/06/09)

Marcadores: ,