Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Dentre os alunos inscritos em Sociologia e Comunicação no primeiro semestre de 2014, lá estava o Daiki Kawauchi. Um aluno japonês, que nasceu e vive no Japão, onde cursa Letras com especialização em português. Está no Brasil fazendo um intercâmbio, em mobilidade internacional. Algum doido mandou o pobrezinho se inscrever nas disciplinas minha e de Marildo, em mídia. Dois professores que falam muito, rapidamente, e que passam muuuita matéria. E o Daiki, que ainda está aprendendo a falar e escrever em português, com aquela carinha assustada na aula... Pegou semestre corrido, aula tumultuada, festa surpresa de aniversário de Marildo, atividade com juri simulado e turma enlouquecida, de um tudo. Numa turma de 60, toda aula esquecia de falar com ele pra saber direitinho qual era a dele ali na UFF. Até que o Yuichi Inumaru me deu um toque (obrigada! Por isso que amo esses meus alunos solidários e preocupados com os demais), porque achava que ele estava meio perdido ali. Falei com Marildo, que ministra a obrigatória de Comunicação e Cultura, e ele me disse que no curso dele havia sugerido como trabalho que Daiki apresentasse um seminário sobre questões culturais no Japão. Foi um sucesso! A turma, o professor e o aluno adoraram. Eu, em Sociologia, busquei uma alternativa. Sugeri que ele fizesse um texto sobre suas percepções culturais em meu curso como atividade suplementar e, como trabalho final, a análise de algum fato social que ele considerasse importante acerca do Japão. Escolheu falar sobre a polidez e o formalismo fortes na cultura japonesa tradicional, ficou bacana. Combinei com ele que aproveitaria o exercício para fazer as correções no seu português, objetivo maior de sua visita ao Brasil. Só que me surpreendi ao ler suas impressões sobre o curso. E quando vi, tava eu lá chorando com o texto do Daiki. Pedi licença pra ele para publicar aqui, quero dividir com vcs essa doçura de olhar. Me deixou muito emocionada, muito mesmo. O texto é simples, o olhar é complexo, a vida é de uma beleza que nem dou conta. Obrigada, Daiki.

Sociologia e Comunicação
Daiki Kawauchi
Prof. Ana

"Vou escrever sobre o que eu senti na aula.
Primeiro, os professores no Japão não divertem tanto os alunos. Você sempre contou as piadas e os alunos riram bastante. Não consegui entender quase nada, por isso quando você contava as piadas, eu sempre ficava triste porque não conseguia entender suas piadas porque meu português não era bom. Os alunos pareceram ter se divertido na sua aula. Se no Japão também tivesse professores como você, eu não dormiria durante as aulas. Invejo seus alunos.
Segundo, eu fiquei espantado porque o horário do começo da aula não foi decidido e não existiu o horário de descanso. Esta aula sempre começava mais ou menos às 16:20 e os alunos voltavam a sala mais ou menos às 16:30. No Japão, por exemplo, uma aula acaba às 16h, e tem o horário de descanso por 15 minutos. A próxima aula começa às 16:15. Precisava entrar na sala antes do horário do começo da aula. No Brasil, eu acho, os universitários são considerados como os adultos. Por isso muitas coisas são deixadas para os alunos decidirem.
Terceiro, achei uma coisa muita boa. Os alunos falavam com você livremente durante a aula. Isso foi muito raro para mim. No Japão, precisava de coragem para falar com os professores durante a aula. Mas aqui no Brasil, os alunos falam com os professores como amigos. A distância entre professores e alunos é menor. No Japão, nunca vi os alunos comprando o bolo para o aniversário do professor. Acho que os professores no Brasil talvez sejam mais felizes do que os professores japoneses.
Em conclusão, eu te agradeço porque você me recebeu.
Tomara que eu possa conseguir entender sua piada em dezembro.
Muito obrigado.
Abraço".

Marcadores: